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Como viver entre mundos?

  • Foto do escritor: Juliana Sae
    Juliana Sae
  • 17 de out. de 2023
  • 2 min de leitura

Despertador, agenda, programação, preparação, relógio.


Ei, pera, cadê eu?


Respiro. Olho pela janela do quarto e contemplo a montanha. Meu corpo e meu ser todinho lembram que se eu não pauso, a vida pausa.


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Vela, rezo, pedidos de guiança pra estar presente, calma, paciente e disponível. Chave do carro, caminho, mais montanhas me chamando e me lembrando: ei, cadê você?


Chegada, abraços de pequenos braços, agachar e olhar nos olhos. SENTIR. Todo dia a mesma pergunta: "sou eu quem cuido deles ou eles de mim?"


Relógio! Hora do lanche, lavar as mãos, xixi, limpar alguns bumbuns, "ei, você tem boca. Usa suas palavras e não suas mãos no amigo."


Varrer, limpar, organizar, observar, orientar, dar colo...beber água! Beber e me nutrir para acolher e ser nutrição. "Julinha, vc já bebeu água hoje? Olha como está calor."


Guardar as compras.

Colar brinquedos quebrados.

Vamos lá fora colher amora?

Potinho, mãos vermelhas, delícias.

Observar pequenos pés ficando na pontinha pra alcançar o que tanto desejam.

Partilha, deleite, pausa no tempo.


GRITO!

Formiga no pé. Vermelha, grande...cara***, parece uma aranha de tão grande isso aqui, pera respira, tira logo.

Dor, choro, mais colo.

Pequeno dedinho inchado.


O quanto eu mostro que dou conta pra eles se sentirem seguros e o quanto mostro que tem vezes que não faço ideia do que tô fazendo?

Caramba, que negócio doido e gostoso.


Eu adulta me vejo como uma criança aprendendo como funciona o mundo. O contemplar junto com o olhar no relógio. O sutil e o encantamento junto com um tantão de responsabilidades. A colheita de amora com o lembrar que estamos ali com muito mais vida do que conseguimos perceber no cotidiano.


Formiga tem fome igual a gente. Também querem amora e se não tem, tiquinho de dedo de criança pode ser também.


Fim do dia. Cadeira no quintal. Colo pra 3 ao mesmo tempo. Olhamos juntos o céu e as nuvens parecem pintadas.


Sinto um amor tão profundo e potente como nunca senti antes.

Sinto um medo tão profundo e potente como nunca senti antes.


As maritacas, as vacas na montanha, Cunha e nós damos tchau pro Sol.

Silêncio e vida habitando o mesmo lugar.


Como falar a linguagem do sutil e ao mesmo tempo a linguagem da vida terrena, que dá contorno?

Como encarnar nesse corpo e nessa vida totalmente sem esquecer de estar presente e atenta aos detalhes?

Como tocar o chão de pés descalços e enraizar pra então, desde esse lugar, me esticar pra colher o que minha alma tanto almeja?


Me sinto uma adulta aprendendo a engatinhar.

1 comentário


Anna Colacioppo
Anna Colacioppo
21 de out. de 2023

Uau… que sutileza e que delícia este mundo que compartilha aqui! Obrigada

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