Ação do tempo no mundo e em nós
- Juliana Sae

- 17 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de jul. de 2024
O que a Natureza nos ensina sobre o tempo?
Essa pergunta foi a lição fora de casa de um curso sobre Natureza Educadora, feito juntamente com minha pós graduação, na busca de alinhavar cada vez mais temas que tanto me encantam. Logo que li a pergunta, saí andando pela trilha do sítio em que estava morando na Bahia e pouco a pouco, cada uma dessas folhas foram aparecendo no meu caminho. Primeiro a marrom, depois a amarelada, até chegar na árvore com elas verdes e grandonas.

São todas da acácia, árvore que mais me chamou a atenção desde que cheguei na Bahia: suas folhas são fluidas, arredondadas e têm o veio diferente das demais - ao invés de ser central, todos são do mesmo tamanho e saem da lateral, como que desenhados à mão com um lápis bem macio, pelo traço solto de alguém que desenha há muito tempo e ficou ali brincando de ondular.
À primeira vista, achei que teria três cores diferentes na minha coleta: verde, amarelo e marrom. E ao começar a organizar, todas essas nuances apareceram aos olhos, me mostrando a imensidão de transformação que tem entre seus processos.
Tornar visível o invisível e olhar com cuidado pro que passa batido, vêm sendo convites que as folhas, as formigas e a chuva andam me fazendo diariamente. E logo ao lado deles, o tempo, me convidando a ver como ele caminha em outro ritmo do que meu corpo estava acostumado na cidade, e que passa deixando marcas, mudando formas, cores e a gente. A Natureza me ensina que cada fase tem sua beleza, que as coisas nascem e morrem e que se a gente olhar com calma, tem muita nuance de vida e cor em cada canto dessa terra.
O tempo também é forte presença na infância. Seja pela necessidade de garanti-lo para que o ser chegante no mundo possa aterrissar com calma, seja porque criança mostra o tempo pra gente. Mostra não, escancara.
Escancara e até assusta um pouco, antes de vermos o presente que é esse convite pra viver em outro ritmo, que os pequenos nos fazem. Mostra o tempo nas mudanças entre as fotos tiradas só com seis meses de diferença. Mostra o tempo quando a gente passa uma tarde com elas, onde quatro horas parecem noventa e duas, tamanha a intensidade e atenção necessária pra ninguém comer pedra ou cair trilha abaixo. Tempo também alongado devido ao montão de coisas bonitas e “primeiras vezes” que a gente presencia.
As crianças mostram pra gente um outro ritmo, pautado não pelo chegar lá, mas pelo caminho e pela experiência. Mostram que o nosso tempo de adulto é essencial pra dar ritmo, mas que as vezes ele precisa sim de um “espera que vou pisar nesse barro aqui no meio do caminho”.




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